Apresentação
Olá leitores do Papo do Aluno, me chamo Renan Bandeira e curso Ciência
da Computação na Universidade Federal do Ceará. Nasci em Recife-PE, mas desde
meus 8 meses de vida vivo em Fortaleza. Na UFC, fiz todas as disciplinas
obrigatórias, restando apenas 1 semestre (22 créditos opcionais) para que eu me
graduasse. Aqui em Salamanca (sou
bolsista Ciência sem Fronteiras – Espanha) faço 4 disciplinas no ano, 2 em cada
semestre.
Sempre tive o sonho de fazer um intercâmbio, desde o meu ensino médio,
mas nunca pensei que isso fosse possível – e foi, aos 45 minutos do
segundo tempo, mas foi. Além disso,
sempre quis ajudar ao máximo a universidade e participar do que fosse possível,
nunca quis ser só mais um na UFC. Creio que atingi minhas expectativas, pois
fui do PET, estagiei e agora faço intercâmbio, só me faltou uma Iniciação
Científica.
Vida Acadêmica
Como me faltava apenas 22 créditos e opcionais, foi muito difícil decidir
o que fazer. Busquei não me preocupar com o aproveitamento da disciplina ou com
notas, e sim com o que realmente me interessava ver ali. Além disso, o curso que faço aqui é Ingeniería
Informática (como se fosse Engenharia da Computação).
Semestre passado fiz duas disciplinas: Gestión de Proyectos (Gestão de
Projetos) e Ingeniería del Software II (Engenharia de Software II). As
disciplinas aqui, por mais teóricas que sejam tem práticas (aulas de
laboratório). Pareceu-me um pouco chato até, porque essas disciplinas eram
essencialmente teóricas com conteúdo e tínhamos aulas de laboratório para fazer
os documentos pdf. As aulas são sempre com apresentação de slides, com cada
detalhe bem explicado, até o desnecessário. Gostei muito da disciplina de Gestão,
pois é algo novo que não tem na UFC e ensina a calcular esforço do projeto,
calcular preço do projeto baseado no esforço, etc e em Engenharia eu gostei o
fato de eles explicarem Engenharia Web, já que as aplicações Web têm um grande potencial
hoje em dia para crescer mais e mais e as pessoas programam Web sem nenhum
padrão.
Sobre a maneira de avaliar, eu já acho que o Brasil ganha fácil. Eu
diria que aqui a avaliação é como um vestibular, pois tem um exame final que vale
de 40 a 70% da nota e, por mais aprovado que você esteja (a média é 5, se esse
exame vale 40% você pode já ter no máximo média 6), você tem que tirar no
mínimo 4. Cada professor faz de uma maneira diferente. No meu caso, tive um
exame que caiu uma questão de marcar perguntando qual dos padrões citados havia
sido criado na Europa e outra vez apareceu uma pergunta valendo 0.5 pontos para
que eu dissesse o que eu tinha achado da disciplina. Em compensação, na
disciplina de Engenharia de Software foram 3 questões abertas e não caiu todo o
conteúdo. Uma das unidades tinham 18 padrões de projeto e a primeira questão era pra desenhar a UML e
falar sobre um padrão específico. Nota-se que a avaliação é muito “decoreba” e
isso faz com que os alunos se desliguem dos estudos na maior parte do semestre
e estudam basicamente no mês do semestre. Bibliotecas funcionando 24h, todas
lotadas sempre nessa época e, fora dessa época, as festas de terça-feira a
sábado são os locais lotados da cidade. E, claro, como eu sinto falta dos
exercícios que os professores brasileiros costumam passar! Me sinto perdido
muitas vezes aqui por falta de exercícios!
Mas a rotina não é só universidade. Agora você está só, vivendo com
estranhos. Agora você tem que fazer seu almoço, limpar os pratos, fazer faxina
e estudar (além de administrar suas finanças). Organização é tudo, também temos
que ter vida social, pois ninguém é de ferro. Isso sem falar que suas aulas são
em outro idioma e vai custar um pouco para você escutar o outro idioma como
escuta seu idioma nativo, principalmente se você só anda com brasileiros. Não
faça isso. Ande com alguns brasileiros, mas também ande com pessoas de outras
nacionalidades, outras culturas, outra forma de ser.
Eu diria que o Brasil em certos pontos não está tão mal como parece. A
maneira de avaliar me parece melhor, a divulgação dos grupos de pesquisa
também. Os eventos da área são mais divulgados, inclusive pela universidade. O
que falta é uma reforma curricular. Nem tudo está errado (aqui, por exemplo,
teoria da computação e compiladores é optativa, mas isso eu também discordo). A
parte matemática vai bem e atualizada, mas não é o que parece na parte da
informática em si. Sinto muita falta de disciplinas que se importem com a Web,
com segurança, com administração de sistemas, etc. Pode até ser que elas sejam
opcionais, mas é relevante hoje em dia. No Brasil, o aluno é importante e tem
grande relevância. Aqui temos um horário de tutoria com o professor, mas não
temos monitores e os grupos de pesquisa não são divulgados. Em compensação, a
base matemática deles é melhor, pois o ensino médio deles é focado na área que
eles querem. Por exemplo, se querem exatas, eles focam na matemática e esquecem
um pouco da geografia e chegam na universidade sabendo derivar.
Experiências e Sugestões
Creio que o maior aprendizado de um intercâmbio não está dentro da sala
de aula, mas isso não quer dizer que você não deve estudar. Pra mim foi algo
totalmente diferente de muita gente, pois não procurei viver com brasileiros.
Moro com espanhóis e isso me ajudou a melhorar meu espanhol e a vivenciar cada
detalhe de sua cultura. Tenho amigos brasileiros, claro, pois quando mais
necessitamos, são os brasileiros os nossos amigos mais íntimos, não tem jeito.
É imprescindível o aprendizado a lidar com o mundo, a viver só sem
depender de ninguém. É um momento que você finalmente se sente um adulto por
completo. Sempre fui muito independente e nunca pedi nada a minha família, mas
quando precisava comer, sacava dinheiro da minha bolsa e comprava um lanche,
por exemplo. Agora consigo cozinhar. Aprendi palavras de vários idiomas,
costumes de diversas nacionalidades, gírias em espanhol, principalmente (isso
você não aprende em curso nem fazendo compras. Só se aprende com os nativos).
Longe da família, me aproximei mais de Deus. E foi na igreja que encontrei
gente aberta, do mundo todo. Aqui não é fácil fazer amigos na faculdade, o
pessoal é muito fechado. O inglês ajuda muito, mas é algo que nem sugiro porque
imagino que você, leitor, já saiba (até porque no nosso curso é necessário para
bibliografias em inglês). E, claro, uma sugestão que repeti várias vezes aqui:
nunca ande SOMENTE com brasileiros. Tenha amigos brasileiros, mas não SÓ tenha
amigos brasileiros. Procure viver sua vida como se estivesse no Brasil, seja
você mesmo e procure aprender ao máximo, seja onde for, seja o que for.
Gostei do post cara! Boa sorte aí!
ResponderExcluir