sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Papo do Aluno com Renan Bandeira


Apresentação

Olá leitores do Papo do Aluno, me chamo Renan Bandeira e curso Ciência da Computação na Universidade Federal do Ceará. Nasci em Recife-PE, mas desde meus 8 meses de vida vivo em Fortaleza. Na UFC, fiz todas as disciplinas obrigatórias, restando apenas 1 semestre (22 créditos opcionais) para que eu me graduasse.  Aqui em Salamanca (sou bolsista Ciência sem Fronteiras – Espanha) faço 4 disciplinas no ano, 2 em cada semestre.
Sempre tive o sonho de fazer um intercâmbio, desde o meu ensino médio, mas nunca pensei que isso fosse possível – e foi, aos 45 minutos do segundo  tempo, mas foi. Além disso, sempre quis ajudar ao máximo a universidade e participar do que fosse possível, nunca quis ser só mais um na UFC. Creio que atingi minhas expectativas, pois fui do PET, estagiei e agora faço intercâmbio, só me faltou uma Iniciação Científica.

Vida Acadêmica
Como me faltava apenas 22 créditos e opcionais, foi muito difícil decidir o que fazer. Busquei não me preocupar com o aproveitamento da disciplina ou com notas, e sim com o que realmente me interessava ver ali.  Além disso, o curso que faço aqui é Ingeniería Informática (como se fosse Engenharia da Computação).
Semestre passado fiz duas disciplinas: Gestión de Proyectos (Gestão de Projetos) e Ingeniería del Software II (Engenharia de Software II). As disciplinas aqui, por mais teóricas que sejam tem práticas (aulas de laboratório). Pareceu-me um pouco chato até, porque essas disciplinas eram essencialmente teóricas com conteúdo e tínhamos aulas de laboratório para fazer os documentos pdf. As aulas são sempre com apresentação de slides, com cada detalhe bem explicado, até o desnecessário. Gostei muito da disciplina de Gestão, pois é algo novo que não tem na UFC e ensina a calcular esforço do projeto, calcular preço do projeto baseado no esforço, etc e em Engenharia eu gostei o fato de eles explicarem Engenharia Web, já que as aplicações Web têm um grande potencial hoje em dia para crescer mais e mais e as pessoas programam Web sem nenhum padrão.
Sobre a maneira de avaliar, eu já acho que o Brasil ganha fácil. Eu diria que aqui a avaliação é como um vestibular, pois tem um exame final que vale de 40 a 70% da nota e, por mais aprovado que você esteja (a média é 5, se esse exame vale 40% você pode já ter no máximo média 6), você tem que tirar no mínimo 4. Cada professor faz de uma maneira diferente. No meu caso, tive um exame que caiu uma questão de marcar perguntando qual dos padrões citados havia sido criado na Europa e outra vez apareceu uma pergunta valendo 0.5 pontos para que eu dissesse o que eu tinha achado da disciplina. Em compensação, na disciplina de Engenharia de Software foram 3 questões abertas e não caiu todo o conteúdo. Uma das unidades tinham 18 padrões de projeto  e a primeira questão era pra desenhar a UML e falar sobre um padrão específico. Nota-se que a avaliação é muito “decoreba” e isso faz com que os alunos se desliguem dos estudos na maior parte do semestre e estudam basicamente no mês do semestre. Bibliotecas funcionando 24h, todas lotadas sempre nessa época e, fora dessa época, as festas de terça-feira a sábado são os locais lotados da cidade. E, claro, como eu sinto falta dos exercícios que os professores brasileiros costumam passar! Me sinto perdido muitas vezes aqui por falta de exercícios!
Mas a rotina não é só universidade. Agora você está só, vivendo com estranhos. Agora você tem que fazer seu almoço, limpar os pratos, fazer faxina e estudar (além de administrar suas finanças). Organização é tudo, também temos que ter vida social, pois ninguém é de ferro. Isso sem falar que suas aulas são em outro idioma e vai custar um pouco para você escutar o outro idioma como escuta seu idioma nativo, principalmente se você só anda com brasileiros. Não faça isso. Ande com alguns brasileiros, mas também ande com pessoas de outras nacionalidades, outras culturas, outra forma de ser.
Eu diria que o Brasil em certos pontos não está tão mal como parece. A maneira de avaliar me parece melhor, a divulgação dos grupos de pesquisa também. Os eventos da área são mais divulgados, inclusive pela universidade. O que falta é uma reforma curricular. Nem tudo está errado (aqui, por exemplo, teoria da computação e compiladores é optativa, mas isso eu também discordo). A parte matemática vai bem e atualizada, mas não é o que parece na parte da informática em si. Sinto muita falta de disciplinas que se importem com a Web, com segurança, com administração de sistemas, etc. Pode até ser que elas sejam opcionais, mas é relevante hoje em dia. No Brasil, o aluno é importante e tem grande relevância. Aqui temos um horário de tutoria com o professor, mas não temos monitores e os grupos de pesquisa não são divulgados. Em compensação, a base matemática deles é melhor, pois o ensino médio deles é focado na área que eles querem. Por exemplo, se querem exatas, eles focam na matemática e esquecem um pouco da geografia e chegam na universidade sabendo derivar.

Experiências e Sugestões
Creio que o maior aprendizado de um intercâmbio não está dentro da sala de aula, mas isso não quer dizer que você não deve estudar. Pra mim foi algo totalmente diferente de muita gente, pois não procurei viver com brasileiros. Moro com espanhóis e isso me ajudou a melhorar meu espanhol e a vivenciar cada detalhe de sua cultura. Tenho amigos brasileiros, claro, pois quando mais necessitamos, são os brasileiros os nossos amigos mais íntimos, não tem jeito.
É imprescindível o aprendizado a lidar com o mundo, a viver só sem depender de ninguém. É um momento que você finalmente se sente um adulto por completo. Sempre fui muito independente e nunca pedi nada a minha família, mas quando precisava comer, sacava dinheiro da minha bolsa e comprava um lanche, por exemplo. Agora consigo cozinhar. Aprendi palavras de vários idiomas, costumes de diversas nacionalidades, gírias em espanhol, principalmente (isso você não aprende em curso nem fazendo compras. Só se aprende com os nativos). Longe da família, me aproximei mais de Deus. E foi na igreja que encontrei gente aberta, do mundo todo. Aqui não é fácil fazer amigos na faculdade, o pessoal é muito fechado. O inglês ajuda muito, mas é algo que nem sugiro porque imagino que você, leitor, já saiba (até porque no nosso curso é necessário para bibliografias em inglês). E, claro, uma sugestão que repeti várias vezes aqui: nunca ande SOMENTE com brasileiros. Tenha amigos brasileiros, mas não SÓ tenha amigos brasileiros. Procure viver sua vida como se estivesse no Brasil, seja você mesmo e procure aprender ao máximo, seja onde for, seja o que for.

Acampamento de Outono em Esmoriz, Portugal – Jovens do mundo inteiro


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